Sabe
um grito muito alto? Do tipo que estremece estruturas e trinca taças.
Assim era o grito. A alma dela; a alma dela queria liberdade, ela não
aceitava equívocos ou eufemismos. E quanto mais a menina tentava
amenizar, sufocar a situação, com mais empenho trabalhavam seus
pulmões:
“Não me importa alcançar, chegar lá, transgredir,
ultrapassar. Eu quero mesmo é sentir. Nada mais que o vulgar e
pulsante sentimento. De nada me serve alcançar, chegar lá,
transgredir, ultrapassar. Eu quero mais é doer, esgarçar, regredir,
maltratar.”
Ensurdecer a própria alma, amortecer seus próprios sentidos. Era essa a batalha da menina que de vez em quando só queria mesmo era rir abobalhadamente de sutilezas . Mas ela precisava ouvir. Fechar os olhos, encarar o silêncio e escutar com atenção. Sem ter medo das consequências por ter sido condescendente consigo mesma. Era um jogo de fé, de se despedir da lógica e se atirar na penumbra. Ou era assim, ou se tornava de súbito vazia de si. E essa era a pior sensação. O desespero por querer e não poder compreender. Aí ela preferia mesmo era acreditar no nada. Ressignificar o nada. Encontrar sentido, criar sentido, desencavar sentido de onde não podia jorrar mais nada além do próprio nada.
“De nada me serve alcançar, chegar lá, transgredir, ultrapassar. Eu quero mais é doer, esgarçar, regredir, maltratar.”
E preferia fazer assim, repetidamente, dia após dia. Encontrando prazer na criação do seu próprio nada.
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